Cavalos

Telmo de Lima Freitas

Debruçado sobre a tarde
No parapeito das casas
Reacende as últimas brasas
Que em breve vão se apagar
Olham uma tropa cruzando
No curral de uma jamanta
Sente garras na garganta
Ao ver os fletes passar

Cavalos, quantos cavalos
Domados mesmo que filho
Com baldas do seu lombilho
Que por capricho deixou
Sente a picanha do tempo
A ferir cada vez mais
Assistindo aos funerais
Dos cavalos que domou

São os revezes da vida
A machucar a velhice
Se o bicho não existisse
Diminuiria o cifrão
Por isso, seguem os cavalos
Na derradeira tropeada
Levando a poeira da estrada
Do último puxirão

E volta ao rumo das casas
Vestindo um poncho de ausências
Lembrando as reminiscências
Do seu último fortim
E segue ouvindo retouços
Com relinchos e bufidos
A machucar os sentidos
De um velho quase no fim

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