Vida Loka (parte 1)
Vagabunda, queria atacar do malucão
Usou meu nome, o pipoca abraçou
Foi na porta da minha casa
Lá botou pânico em todo mundo 3 hora da tarde
E eu nem tava lá, vai vendo!
É mas aí, Brown, oh, tem uns tipo de mulher, truta
Que não dá nem pra comentar
Eu nem sei quem é os maluco, isso que é foda
Aí vamo atrás desse pipoca aí e já era
Ir atrás de quem e aonde? Sei nem quem é, mano
Mano, não devo, não temo e dá meu copo que já era
E aí, bandido mal, como que é, meu parceiro?
E aí, Abraão, firmão truta?
Firmeza total, Brown e a quebrada aí, irmão?
Tá pampa, aí fiquei sabendo do seu pai
Aí, lamentável truta, meu sentimento mesmo, mano!
Vai vendo, Brown, meu pai morreu
E nem deixaram eu ir no enterro do meu coroa não, irmão
Isso é louco, você tava aonde na hora?
Tava batendo uma bola, meu, fiquei na mó neurose, irmão
Aí foram te avisar?
É, vieram me avisar, mas tá firmão, bro
Eu tô firmão, logo mais tô aí na quebrada com vocês aí
É quente, na rua também num tá fácil não morô, truta?
Uns juntando inimigo, outros juntando dinheiro
Sempre tem um pra testar sua fé, mas tá ligado
Sempre tem um corre a mais pra fazer, aí, mano, liga
Liga nós aí qualquer coisa, lado a lado
Nós até o fim morô, mano?
Tô ligado!
Fé em Deus que ele é justo!
Ei, irmão, nunca se esqueça
Na guarda, guerreiro, levanta a cabeça, truta
Onde estiver, seja lá como for
Tenha fé, porque até no lixão nasce flor
Ore por nós, pastor, lembra da gente
No culto dessa noite, firmão, segue quente
Admiro os crentes, dá licença aqui
Mó função, mó tabela, pô, desculpa aí
Eu me sinto às vezes meio pá, inseguro
Que nem um vira-lata, sem fé no futuro
Vem alguém lá, quem é quem, quem será meu bom
Dá meu brinquedo de furar moletom!
Porque os bico que me vê, com os truta na balada
Tenta ver, quer saber, de mim não vê nada
Porque a confiança é uma mulher ingrata
Que te beija e te abraça, te rouba e te mata
Desacreditar, nem pensar, só naquela
Se uma mosca ameaçar, me catar, piso nela
O bico deu mó goela, pique bandidão
Foi em casa na missão, me trombar na Cohab
De camisa larga, vai saber
Deus que sabe, qual é maldade comigo, inimigo no migué
Tocou a campainha, plim, pra tramar meu fim
Dois maluco armado sim, um isqueiro e um estopim
Pronto pra chamar minha preta pra falar
Que eu comi a mina dele ah, se ela tava lá
Vadia mentirosa, nunca vi, deu mó faia
Espírito do mal! Cão de buceta e saia
Talarico nunca fui e é o seguinte
Ando certo pelo certo, como 10 e 10 é 20
Já pensou, doido? E se eu tô com meu filho no sofá
De vacilo desarmado era aquilo
Sem culpa e sem chance, nem pra abrir a boca
Ia nessa sem saber, pro cê vê, Vida Loka!
Aí, Brown, nós tá aqui dentro, mas demorô, truta, liga nós, irmão
Não, truta, aí, jamais vamo levar problema pro cês aí
Nóis resolve na rua rapidinho também
Mas aí, nem esquenta, e aí, e aquele jogo lá do final do ano que cê falô?
Então, truta, demorô, no final do ano nós vamo marca aquele jogo lá
Eu você, o Blue, os cara do Racionais, tudo aí, morô, meu?
Visita sua aqui é sagrada, safado num atravessa não, morô?
Mais na rua não é não!
Até Jack! Tem quem passe um pano
Impostor, pé de breque, passa por malandro
A inveja existe e a cada 10, 5 é na maldade
A mãe dos pecado capital é a vaidade
Mas se é pra resolver, se envolver, vai meu nome, eu vou
Fazer o que se cadeia é pra homem?
Malandrão eu? Não, ninguém é bobo
Se quer guerra, terá, se quer paz, quero em dobro
Mas, verme é verme, é o que é
Rastejando no chão, sempre embaixo do pé
E fala uma, duas vez, se marcar até três
Na quarta, xeque-mate que nem no xadrez
Eu sou guerreiro do rap, sempre em alta voltagem
Um por um, Deus por nós, tô aqui de passagem
Vida Loka, eu não tenho dom pra vítima
Justiça e liberdade, a causa é legítima
Meu rap faz o cântico, dos louco e dos romântico, vou
Por um sorriso de criança aonde eu for
Pros parceiros, tenho a oferecer minha presença
Talvez até confusa, mas real e intensa
Meu melhor Marvin Gaye, sabadão na marginal
O que será será, é nós vamo até o final
Liga eu, liga nós, onde preciso for
No paraíso ou no dia do juízo, pastor
E liga eu e os irmãos é o ponto que eu peço
Favela, fundão, imortal nos meus verso
Vida Loka
E aê, Brown, é os pião irmão!
Tô com os mano aí, eu vô, tô indo ali na zona leste aí
Tipo umas 11 horas eu já tô voltando já, morô?
Tá firmão aí, Brown, aí, mano, eu vou desligar
Mas tu manda um salve pros mano da quebrada aí, morô?
A Gil, morô, mano? Pro Batatão, pro Pacheco
Pro Porquinho, pro Xande, pro Dé, morô, meu?
Aí no dia do jogo morô, os mano do Exaltasamba vão vir
Manda um salve para os pinha lá, morô?
Fica com Deus aí, irmão
A Realidade Crua e a Resistência em Vida Loka (parte 1) dos Racionais MC's
A música Vida Loka (parte 1) dos Racionais MC's é um retrato visceral da realidade enfrentada por muitos nos bairros periféricos do Brasil. Através de uma narrativa direta e sem rodeios, Mano Brown, um dos membros do grupo, descreve situações de violência, injustiça e a luta diária pela sobrevivência. A letra é um diálogo entre personagens que compartilham suas experiências e desafios, criando uma conexão com o ouvinte que pode ser tanto de identificação quanto de conscientização sobre as adversidades enfrentadas por essas comunidades.
A música aborda temas como a traição, a violência e a morte, elementos frequentes no cotidiano das periferias. A narrativa menciona um incidente onde o nome do protagonista é usado indevidamente, gerando uma situação de risco. Além disso, a impossibilidade de comparecer ao enterro do próprio pai e a constante sensação de insegurança são expressas com uma crueza que busca chocar e sensibilizar. A letra também destaca a solidariedade e o companheirismo entre aqueles que compartilham as mesmas lutas, reforçando a importância da união e do apoio mútuo.
A canção é um hino de resistência e fé, com o refrão 'Fé em Deus que ele é justo' servindo como um mantra de esperança e força. A mensagem é clara: apesar das adversidades, é preciso manter a fé e a cabeça erguida. A referência ao lixão onde 'até no lixão nasce flor' simboliza a capacidade de superação e a beleza que pode emergir mesmo nas condições mais adversas. Vida Loka (parte 1) é mais do que uma música; é um documento social, um grito de resistência e um lembrete da resiliência humana diante das dificuldades da vida.