Perdão (Filho Pródigo)
Igual um filho pródigo
Perdi tudo em alguns instantes
Todos os meus bens se foram de maneira extravagante
Gastei bastante, meu coração foi arrogante
Desvalorizei tudo aquilo que eu herdei
Hoje percebo, desonrei, vacilei, dei mó brecha
De festa em festa, tudo o que não presta
De copo em copo, de corpo em corpo
Achei que era vida, mas já tava quase morto
Passei muito sufoco
Prostitutas vão e vem
Noias de montão também
Nesse quarto de loucura era só branca da pura
Mas a grana ficou curta
A pedra então chegou e o baguio endoidou
Bagunçou mais ainda
O fogo do cachimbo refletindo na retina
Lembrei da minha família e de tudo o que eu tinha
Se ficar nesses corres eu sei que vou morrer
Meu pai, misericórdia, vem me socorrer
Perdão, pequei contra o céus e contra ti
Perdão, errei, seus conselhos não ouvi
Perdão, meu pai, me arrependi
Se me aceitar, estou aqui
Tô magro, doente, sem dente, cheio de feridas
Como era bom quando levava aquela outra vida
Trabalhando com meu pai na nossa pequena empresa
Firmeza, dignidade, família de guerreiros
Meu velho, meu irmão e mais três pedreiros
O trampo era pesado, dinheiro pouco, mas honrado
Só que deixei tudo de lado, colei com o bonde do pecado
Quando vi já tava escravo da curtição alucinante
Falido e sendo jurado de morte por traficantes
Nunca fui bandido, mas vivo como se fosse
Nada mais é doce, tenho fome, tô sofrendo
Maldito veneno tá quase me derretendo
Será que se eu voltar eles vão me aceitar?
Era saudável e bem vestido
Agora ando descalço, desnutrido
Invejo até os cães que encontram o que comer
Quero voltar pra casa e me arrepender
Perdão, pequei contra o céus e contra ti
Perdão, errei, seus conselhos não ouvi
Perdão, meu pai, me arrependi
Se me aceitar, estou aqui
Me deixa ser o teu criado
Como um dos teus empregados
Eu prometo obedecer, minha vida oferecer
Sofri demais, posso dizer
Longe de ti não sei viver
Pai, sou eu, por favor perdoa seu filho
Sei que não sou digno, mas só tenho a ti
Se não for pra tua casa não tenho pra onde ir
Meu pai chorou, me abraçou, me mandou entrar
Me vestiu e alimentou
Pegou seu melhor tênis e me fez calçar
Disse filho, pode ficar, esse é o teu lar
Em ti me regozijo, glória a Deus
Pensei que estava morto, mas meu filho está vivo
Estava morto e reviveu
Estava perdido, mas se achou
Na paranoia delirante eu vi pais agonizantes
Orando pros filhos voltarem a ser como antes
Avós descendo em biqueiras, penhorando os bens restantes
Quantas mães na madrugada chorosas e ofegantes
Buscavam por suas filhas, encontradas frias, mortas a dias
Meu Deus, que dor insuportável
Mas quem tá vivo ainda pode ser tratado
Milagre é possível pra quem quer ser curado
Perdão, pequei contra os céus e contra ti
Perdão, errei, seus conselhos não ouvi
Perdão, meu pai, me arrependi
Se me aceitar, estou aqui
Me deixa ser o teu criado
Como um dos teus empregados
Eu prometo obedecer, minha vida oferecer
Sofri demais, posso dizer
Longe de ti não sei viver