Pai Chico
Elpídio dos Santos
Numa fazenda de escravos, Pai Chico
A sinhá moça agradou
Sinhô moço vendo o agrado
Enciumado ficou
De tardezinha cansado do eito
Quando Pai Chico voltou
Sinhô moço dando risada
Lá da sacada gritou
Pegue esse negro atrevido
E ponha na roda e faça virar
Tampe com o dedo, o ouvido
Pra ninguém ouvir esse negro gritar
Deixe que vire, que bata
Não quero que mande ninguém parar
Eu quero ver satisfeito
Esse corpo sem jeito, sem vida rolar
Ai, ai, não posso agüentar senhor
Ai, ai, sinhô vai me matar de dor
Ai, ai Pai Chico foi quem vos criou
Ai, ai, morrendo pouco a pouco estou
Quando amanheceu, Pai Chico morreu
Quando bateu meia-noite
Do dia seguinte a fazenda alarmou
Todo mundo levantou
E ajoelhado então rezou
Foi Pai Chico que voltou
E a sinhá moça carregou