Viramato

Miguel Bicca

No tranco lerdo de uma junta de bois mansos
Retalhava o pago santo naquele andar sonolento
Vivia só no relento pois casa não lhe importava
Onde parava sesteava
E onde pousava morava
Meia carreta de sonhos
E arrobas de solidão
Muitas libras de esperanças
E um peso no coração

Viramato
Virou mundo a vida inteira
Cortou madeira desde os tempos de pia
Ainda o vejo de machado sobre o ombro
Braços mais fortes que a raiz de um cambará

Viveu nos matos acampado e só
Carreta, charque, canha e chimarrão
Corta que corta e a madeira chora
Lagrimas de cavacos pelo chão
Corta que corta e a madeira chora
Lágrimas de cavacos pelo chão

Cai o angico, o pau-ferro, a canjerana
Cai o alecrim, a guajuvira e o ipê
E o viramato no fundão do matos
Machado ao ombro continuava em pé

Morreu um dia o lenhador sólito
Fez-se semente
Fez-se terra e pó
Na campa rasa seu machado velho
Estranha cruz que tem um braço só

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