Pintura Em Quadro de Ausência
Tenho a ausência estradeira das taperas
Onde ainda os pomares dão seus frutos
Caudal do tempo que no vento tudo leva
Gente que partiu, olhar vazio, vestindo luto
Ainda ontem havia chama no pavio
Velas pelo rancho e riso solto de criança
Uma gamela esperando junto à porta
E uma roseira florescendo de esperança
Mas o inverno desses fundos de campanha
É bem mais frio do que as geadas manhaneiras
E essa gente que cansou igual a terra
Se fez estrada, céu de neón, nuvem de poeira
O pasto, aos poucos, tomou conta do terreiro
Onde a cacimba se escondeu já sem valia
Um João-de-barro fez seu ninho na cumeeira
Que vai caindo retratando a nostalgia
Tenho o silêncio desses tristes corredores
De casas velhas como quadros de abandono
Portas abertas apontando para a estrada
Na voz do vento perguntando por seus donos
Templos vazios onde a vida teve um fim
Embora o tempo, por ser tempo, não esquece
E ainda se mostra na roseira envelhecida
Que a cada ano, sem porquê, ainda floresce