Tristeza de uma Embolada
De manhã ele sente uma pontada
Que começa na ponta do dedão
Uma febre, um suor com tremedeira
Um chiado, um calor no coração
Ele chama o doutor e a rezadeira
E a mulher chama o padre e o sacristão
Cada um diz um monte de besteira
Segundo seu credo e profissão
A mulher faz um chá de erva-cidreira
Ele toma e tem uma
Virgem santa!
Inda bem que não era nada não
Porque ele só ri no ano novo
Porque ele só fala no ano novo
Porque ele só vive no ano novo
Não há nada de novo no ano novo
Ele toma a pastilha do futuro
Ele toma a pastilha do futuro
Ele lê na cartilha do futuro
Ele veste a mortalha do futuro
Ele não sabe mais o que sabia
E o que sabe ele esquece que aprendeu
Mas querendo esquecer o que ele sabe
Ele aprende a aprender o que esqueceu