Samba-Enredo 2024 - Hutukara
É Hutukara! O chão de Omama
O breu e a chama, Deus da criação
Xamã no transe de Yakoana
Evoca Xapiri, a missão
Hutukara, ê! Sonho e insônia
Grita a amazônia, antes que desabe
Caço de tacape, danço o ritual
Tenho o sangue que semeia a nação original
Eu aprendi português, a língua do opressor
Pra te provar que meu penar também é sua dor
Falar de amor enquanto a mata chora
É luta sem flecha, da boca pra fora!
Tirania na bateia, militando por quinhão
E teu povo na plateia, vendo a própria extinção
Yoasi que se julga: Família de bem
Ouça agora a verdade que não lhe convém
Você diz lembrar do povo Yanomami em 19 de abril
Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome
Quando o medo me partiu
Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil
Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!
Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom
Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom
Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso
Não queremos sua ordem, nem o seu progresso
Napê, nossa luta é sobreviver!
Napê, não vamos nos render!
Ya temí xoa! Aê, êa!
Ya temí xoa! Aê, êa!
Meu Salgueiro é a flecha
Pelo povo da floresta
Pois a chance que nos resta
É um Brasil cocar!
Hutukara: O Grito da Floresta e a Resistência Yanomami no Samba do Salgueiro
A música "Hutukara - Samba-Enredo 2024" dos Acadêmicos do Salgueiro é uma poderosa manifestação cultural que traz à tona a luta e a resistência do povo Yanomami, uma das muitas nações indígenas que habitam a Amazônia brasileira. A letra é um convite à reflexão sobre a relação entre a sociedade contemporânea e os povos originários, destacando a importância da preservação da cultura e dos direitos indígenas.
O título da canção, "Hutukara", refere-se ao chão sagrado de Omama, uma figura central na cosmologia Yanomami, representando a criação do mundo. A letra evoca imagens de rituais xamânicos e a invocação dos Xapiri, espíritos ancestrais que são fundamentais na cultura Yanomami. A música também aborda a dor da opressão e a necessidade de aprender a língua do colonizador para comunicar o sofrimento e buscar justiça. A expressão 'Napê', que significa 'não' em Yanomami, é usada como um grito de resistência contra a submissão e a perda de autonomia.
A canção critica a hipocrisia da sociedade que, por um lado, celebra a memória dos povos indígenas em datas comemorativas, mas por outro, ignora suas lutas e sofrimentos cotidianos. A menção a Bruno e Dom, referindo-se ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em 2022 enquanto defendiam os direitos dos povos indígenas, ressalta a urgência e a gravidade da situação. O Salgueiro, ao se posicionar como a 'flecha pelo povo da floresta', reforça seu compromisso com a causa indígena e a preservação ambiental, conclamando a um Brasil que honre suas raízes e diversidade cultural.