Na Ponta do Cabo

Amanhecemos na ponta do cabo
Dobramos levando
Nossa viagem embora
Agarrunchados, cosidos
Com os penedos e os calhaus
Do cabo, do cabo, do cabo, do cabo
Aquele casco vai
Com o bordo debaixo de água
Mete de popa e de proa
Lá vai em pulos e saltos
Com as tilhas em baixo
Acode à vela
Á bomba
Ao leme
Ao remo
Ao bote
Ao bote, ao bote

Abriu então pelas picas
Atirou fora a estopa
Do calafeto cuspindo
Os cinco mares que nos deram
Comiam, comiam, comiam, comiam
E o vento forte, e o vento forte
Travessão
Deu-nos um grande chuveiro
Chamado olho de boi
Olha o boi
Corre a nau pela bolina
Aguçando de ló
Deu uma grande cabeçada
Que partiu o galindréu
O gurupés
O mastaréu a moneta
A escota, a calinga o papa-figo

O tamborete
Sem moneta nem mastro nem nada
Acode à vela
À bomba
Ao leme
Ao remo
Ao bote
Ao bote, ao bote

E foi um mar que lhe deu
Foi-se ao leme
Vão os machos
Metidos nas fêmeas
Tudo arrasado de água
Metida a vela na verga
Metida, metida, metida, metida
E pela proa
Subitamente pela pro
Há um ponente tão rijo
Que nos deixou a verga em baixo
Olha o baixo
E pairava sobre nós
Um olho de fogo
Cheirava a enxofre e parecia
Que se derretia o mundo
Os caldeirões, a escotilha
A estrinca, o postaréu
A cevadeira, a conjura do tempo
E no batel e no batel
Que nem mover se podiam
Uns por cima dos outros, por cima dos outros
Acode à vela
À bomba
Ao leme
Ao remo
Ao bote
Ao bote, ao bote

Pela banda de bordo
Faz um medo de ver
Só mais um pé-de-vento
Era noite, era noite
Era o fim pelos vistos
E soavam, soavam
Altos gritos nos baixos
São gemidos e medos
E rezando demais
Vai o bom e o mau
Vai o barco e a nau

A safar o mesame
Levantava levante
E ventava poente
Era mais do que tudo
Pelo quarto da prima
Trovões, altos gritos
Arrecifes e mais
São suspiros e prantos
Alijando de menos
Este e aquele mundo
Vai a pique e ao fundo

Pela banda de bordo
A safar o mesame
Faz um medo de ver
Levantava levante
Só mais um pé-de´vento
E ventava poente
Era noite, era noite
Era mais do que tudo
Era o fim pelos vistos
Pelo quarto da prima
E soavam, soavam
Trovões, altos gritos
Altos gritos nos baixos

Arrecifes e mais
São gemidos e medos
São suspiros e prantos
E rezando demais
Alijando de menos
Vai o bom e o mau
Este e aquele mundo
Vai o barco e a nau
Vai a pique e ao fundo

Salva, salva o corpo
Ó corpo Santo, salva

Curiosidades sobre a música Na Ponta do Cabo de Faust'o

Quando a música “Na Ponta do Cabo” foi lançada por Faust'o?
A música Na Ponta do Cabo foi lançada em 1994, no álbum “Crónicas da Terra Ardente”.

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