O Mestre-Sala Dos Mares

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
À cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

O Tributo de Elis Regina ao Herói da Resistência Afro-Brasileira

A música 'O Mestre-Sala dos Mares', interpretada por Elis Regina, é uma homenagem a João Cândido, figura histórica conhecida como 'O Almirante Negro', que liderou a Revolta da Chibata em 1910. A letra, escrita por Aldir Blanc e João Bosco, utiliza uma linguagem poética para retratar a luta e a dignidade de João Cândido e dos marinheiros que se rebelaram contra os castigos físicos impostos pela Marinha Brasileira.

A canção começa evocando a imagem de um 'dragão do mar' que reaparece, uma metáfora para a força e a coragem de João Cândido, que ressurge na memória coletiva como um feiticeiro, alguém com poderes quase místicos. A dignidade de um 'mestre-sala' atribuída a ele destaca sua elegância e liderança, enquanto a menção às 'mocinhas francesas, jovens polacas e batalhões de mulatas' sugere a admiração e o apoio popular que ele conquistou.

A música também faz referência às duras condições enfrentadas pelos marinheiros ('o pessoal do porão') e celebra a resistência contra as injustiças ('Glória a todas as lutas inglórias'). Elis Regina, com sua interpretação intensa e emocionante, contribui para eternizar a figura de João Cândido e a importância da luta afro-brasileira por direitos e reconhecimento. 'O Mestre-Sala dos Mares' é um poderoso lembrete das páginas de resistência que compõem a história do Brasil, e a performance de Elis Regina dá vida a essa narrativa de forma memorável.