João e Maria (part. Nara Leão)
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você, além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja, não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu peão
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal
Que o faz de conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
João e Maria: A Nostalgia da Infância na Voz de Chico Buarque e Nara Leão
A canção 'João e Maria', interpretada por Chico Buarque e Nara Leão, é uma obra que evoca a nostalgia e a simplicidade da infância, contrastando-a com a complexidade e, por vezes, a dureza da vida adulta. A letra da música, escrita por Chico Buarque, um dos maiores compositores da música popular brasileira, conhecido por suas letras poéticas e carregadas de significado, mergulha no universo lúdico das brincadeiras infantis, onde tudo é possível e a imaginação não tem limites.
No início da música, o eu lírico se coloca como herói de suas próprias histórias, um cowboy, um rei, um bedel e um juiz, papéis que remetem à liberdade de ser quem quiser no mundo da fantasia. A presença de uma figura feminina, a 'princesa', sugere uma companheira de aventuras, talvez um primeiro amor, que compartilha dessa época de inocência e descobertas. A menção de andar 'nua pelo meu país' pode ser interpretada como uma metáfora para a pureza e a falta de vergonha típica da infância, onde não existem os julgamentos e as inibições que surgem com o amadurecimento.
Contudo, a música também traz um tom de melancolia, especialmente no verso 'Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim', que sinaliza o fim dessa fase mágica e a inevitável transição para a vida adulta. O 'quintal' representa o espaço seguro e conhecido da infância, e a 'noite que não tem mais fim' pode ser vista como a incerteza e a continuidade da vida após a perda da inocência. A última estrofe revela a dor da separação e a sensação de abandono, com o eu lírico se sentindo perdido sem a presença daquela que foi sua parceira nas brincadeiras de criança. A música, portanto, é um convite à reflexão sobre o crescimento e as transformações da vida, mantendo viva a memória de um tempo mais simples e feliz.