O Tempo Não Para
Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu 'to derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina 'tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para não, não para
Reddy Allor
Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha num palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe, é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam um país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
A tua piscina 'tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para não, não para
A Rebeldia e a Crítica Social em O Tempo Não Para de Cazuza
A música O Tempo Não Para, composta por Cazuza, é uma das mais emblemáticas do rock brasileiro dos anos 80 e carrega uma forte mensagem de crítica social e política. A letra reflete a insatisfação do artista com o contexto em que vivia, marcado por uma sociedade repleta de contradições e injustiças. Cazuza, conhecido por sua postura rebelde e contestadora, utiliza a canção para expressar seu descontentamento e sua percepção de que, apesar das mudanças, muitas coisas permanecem as mesmas.
A expressão 'Disparo contra o sol' pode ser interpretada como um ato de rebeldia, uma luta contra o que parece invencível ou imutável. A 'metralhadora cheia de mágoas' simboliza as palavras e a música como armas de protesto. A sensação de cansaço 'de correr na direção contrária' reflete a dificuldade de lutar contra o sistema e a falta de reconhecimento ('sem pódio de chegada ou beijo de namorada'). Ainda assim, Cazuza afirma que 'ainda estão rolando os dados', indicando que a luta continua e que o futuro ainda é incerto.
A crítica se torna mais direta em versos como 'A tua piscina tá cheia de ratos / Tuas ideias não correspondem aos fatos', onde ele ataca a hipocrisia e a corrupção da elite. A repetição de 'o tempo não para' sugere que, apesar dos problemas e desafios, a vida segue e as lutas devem continuar. A música se torna um hino de resistência e um chamado para a reflexão e ação, características marcantes do legado de Cazuza e de sua contribuição para a música brasileira e para a cultura de protesto.