Preço do Progresso
PREÇO DO PROGRESSO
Plantei na beira do rio, os meus sonhos de menino,
um dia fui pra cidade, na busca do meu destino,
voltei pra matar a saudade, foi grande a minha surpresa,
ao ver meu mundo encantado coberto pela represa.
Não vi a velha morada, nem a sombra do arvoredo,
não vi o capão de mato, onde guardei meu segredo,
também não vi a estrada, nem a porteira do potreiro
onde andava de «gaiota» puxada por um terneiro.
A água cobriu o vargedo, e o gramado aveludado,
o meu pé de guabiroba, frondoso abrigo do gado;
cobriu a trilha do porto, pesqueiro de lambari,
onde amarrava a canoa nos galhos do sarandi.
Não pude mais tomar banho, nas águas limpas da sanga
dividindo com os sabias, as delícias da pitanga;
a correnteza do rio a barragem absorveu
até o som da cascata sufocado emudeceu.
Todo o progresso tem preço, cumpriu-se o velho ditado
contribuiu com o meu tesouro, meu acervo do passado;
aquele quadro pintado, com as paisagens da infância
só me resta moldurado, na parede da lembrança.