Pra Tudo Nóis Dá Jeito
Tomara que o mato seca
Só pra ver o que as cobra come
Todas coisas está sumindo
Só as mulher que não some
Mulher tem demais no mundo
Tem sete pra cada homem
Dança, moça, dança sua vontade
Goza sua mocidade
Que a velhice vem, a boniteza some
Você morre, a terra come
A mineira me pediu três coisa num tempo só
Um vestido, anel e um brinco
No vestido, eu paguei cinco
No anel, oitenta e cinco
No brinco, eu paguei dez
Lá se foi meus cem merréis
A mulher e o meu cavalo caiu num poço fundo
Meu cavalo eu sarvei
Tirei ele num segundo
Meu cavalo é um colosso
A mulher eu deixei no poço
Mulher tem demais no mundo
Quatro coisas desse mundo
Meu coração não tormenta
Cavalo trotão, casa goterenta
Criança chorão e muié ciumenta
Zap matou sete copa
Adeus, menina da Europa
Sete copa matou espadilha
Adeus, Olinta Maria
Espadilha matou sete ouro
Adeus, menina do choro
Sete ouro matou dois e três
Joga ás, jogado dois, vale seis
A Vida Rústica e a Relatividade dos Valores em Pra Tudo Nóis Dá Jeito
A música Pra Tudo Nóis Dá Jeito, interpretada pela dupla Valdomiro e Valdemar, é um retrato da vida rural e das percepções sociais que emergem desse contexto. A letra, repleta de expressões típicas e uma visão pragmática da vida, reflete a simplicidade e a dureza do cotidiano no campo, bem como uma visão particular sobre as relações humanas e a valorização de certos aspectos da vida em detrimento de outros.
A canção começa com uma reflexão sobre a escassez e a sobrevivência, usando a imagem do mato seco e das cobras para ilustrar a ideia de que, apesar das adversidades, a vida encontra um caminho. A referência à abundância de mulheres em contraste com a escassez de outros recursos é uma maneira de expressar a desvalorização das relações femininas em um contexto machista, onde as mulheres são vistas como substituíveis. A música também aborda a juventude e a beleza como efêmeras, incentivando a aproveitar a vida antes que a velhice e a morte cheguem.
O trecho que narra a escolha entre salvar o cavalo ou a mulher de um poço é particularmente revelador das prioridades do narrador, que valoriza mais o animal, visto como útil e valioso, do que a mulher, novamente refletindo uma visão machista. A música termina com uma série de versos que parecem fazer referência a um jogo de cartas, simbolizando as trocas e as perdas da vida, onde cada jogada leva a uma despedida e a um novo começo. A narrativa da música, portanto, é uma janela para um mundo onde a praticidade e a sobrevivência ditam as regras, e onde os valores são medidos por critérios muito diferentes dos urbanos ou modernos.