Diário do Caipira
Eu já morei na cidade
Mas não pude ser feliz
Voltei a viver no mato
Onde está minha raiz
Hoje cedo eu acordei, fiz oração costumeira
Antes de tomar café eu me banhei na
Cachoeira
Caminhei lá pro curral pra desleitar a rancheira
Parei pra assuntar o canto do Sabiá-laranjeira
Passarinho apaixonado, que traz no canto magoado a poesia brasileira
Logo depois que almocei, fui descendo a
Corredeira
Ver a ceva de piau no poço da gameleira
Pesco quase todo dia, eu gosto da brincadeira
Mas só pego um ou dois, desperdiçar é
Besteira
Somos só dois no ranchinho, gosto do peixe fresquinho e aqui não tem geladeira
Eu já morei na cidade
Mas não pude ser feliz
Voltei a viver no mato
Onde está minha raiz
Subi pra apanhar a lenha beirando a capoeira
Observei lá na roça o rastro de uma mateira
Voltei, trelei os magrelo, pus o baio na
Cocheira
Porque amanhã é domingo, quero dar uma carreira
Com um poquinho de sorte, quem sabe ela vai pro corte no baque da cartucheira
Tô rematando serviço, só pego segunda-feira
O Sol vai rapando o morro e a sombra desce a ladeira
Tô feliz e tô pensando que eu fiz a coisa certeira
Caboclo ir pra cidade é cair na ratoeira
Enfim terminou meu dia, é hora da Ave Maria
Vou rezar com a companheira