Eu voltei
Original, polêmico, contestador
Inconformado, guerreiro, vida loka
Eu? Talvez, mas eu tô falando
Do meu parceiro Kaskão
Trilha sonora do gueto
Se liga aí
Quem diria que uma bic
Mudaria o roteiro de uma trajetória fictícia de medo
Eu me lembro exato ano que eu entrei em ação
Era 88 tava eu no capão
15 anos, solitário, sem perspectiva
Onde a única certeza era de perder a vida
Grupo de extermínio, líder cabo bruno
Que julgava, decidia qual seria o seu futuro
E eu cheio de energia, louco pra viver
Destemido, com instinto
De quem nasceu pra vencer
Fui ganhando a rua, conhecendo a função
O Djalma estudioso, viraria o Kaskão
Só que tinha um quê diferente na história
Corajoso, desarmado, morre sem ver a glória
Imagina eu pivete
Entre a cruz e o punhal
Nunca tinha avançado dois km do quintal
Tava andando com os mano
Que era o bola da vez, um conflito ali nascia
Eu completava 16
Já bolava um plano, vou me adiantar
Quando um mano dá um salve: Cê sabe pilotar?
Era um mano que ali todos queria tá junto
João Ricardo cabuloso
Assalta banco, vagabundo
Meu primeiro assalto, Bradesco da Morumbi
Os mano entrou, eu no cavalo já querendo fugir
Misto de adrenalina, misturada com medo
Depois disso nunca mais dormi no meu travesseiro
Começava aí a mudança então
Meu vulgo corria trecho, eu já era ladrão
Não contive o desejo, comprei a Teneré
E os ave de rapina não saia do pé
Era vários pinote, eu pilotava muito
Eles pegava raiva, me queria defunto
Isso deu desespero. Os conselhos do pai
Que dizia com carinho: Filho, vê se não vai
Lembrei do colo da mãe, um dia deu saudade
Eu decidi vou dormir lá, viver minha verdade
Os cara tava esperando esse cochilo meu
Entrei em cana e a Febem logo o Kaskão conheceu
Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão, eu voltei
Enclausurado
Após os erros da minha vida de resultado
Pra mim sobrou apenas feridas
Minha mãe falava: Meu filho você toma cuidado
Diga com quem andas, que direi se serás coitado
Só percebi a importância na detenção
Do outro lado o tubarão com a faca na mão
Como queria, aqui sentado
Nesse momento, pegado nessa caneta
Mudar o que passa aqui dentro
Mas não consigo, meu rap não é feito de costa
Infelizmente, o que rimo tem sempre a proposta
Falar de flores, do campo, das areias do mar
Talvez me posicionasse como um mega star
Eu me pergunto: A briga que eu travo aqui dentro
Ela é útil pra que?
Te abandonaram faz tempo
Cê num escuta os mano aí
Tocando nas radio, parece tudo perfeito
Ninguém é feito de otário
É a maçônica de novo tese em ação
Você derruba o líder que desvirtua a missão
Apressado come cru, muita pressa nessa calma
Que o sistema demônio quer corromper minha alma
Mesmo que morra tentando
Mesmo que tente sozinho, se a responsa for minha
Não vou passa pro vizinho
Até podia tá morto, foi o preço que paguei
Quando entrei nessa luta
Os fraco aqui num tem vez
Hoje o rap é moda, desfila pela TV
Da resistência sobraram
Só os que nasceu pra ser
Num adianta ficar aqui cobrando alguém
Porque essa terra tem dono
Ninguém da o que não tem
Olha o conflito eu quero continuar cantando
Num quero voltar pro crime
Num quero assaltar banco
Só que eles querem acabar
Com o nosso protesto
Mostrando que quem protesta
Tá atrasado e é resto
Alguém aí tem resposta
Pra me levar lá pro gueto?
Pra nóis a polícia mata somente pobre e preto
Tá bom, já sei eu voltei
Fazer fomento de novo
Faz parte do meu caráter
Representante do povo
2017 tá mesmo tudo mudado
Você num parece rapper
Os mano é tudo simpático
Os cara canta o amor
Mesmo vivendo a dor
Ainda que a eles custe colar com opressor
O que era errado hoje é certo
Então eu já não sei, só sei que eu não mudo
Por isso eu voltei
Fui abrindo a porta devagar
Mas deixei a luz entrar primeiro
Todo meu passado iluminei e entrei
Pesado como sempre e destemido na vida
Passado vinte e poucos anos nessa vida bandida
Parando para pensar tiro minhas conclusão
O cabuloso da história aqui num é o Kaskão
Por tudo que ele passou e pra hoje estar vivo
Teria que ter um porquê pra isso ter ocorrido
É vários que já tentaram ver ele no chão
O baianinho é cabuloso e tá sempre firmão
Sempre deixando bem claro
Simplicidade na frente
Porque a glória é de Deus e honra sim
É pra gente
Nóis merecemos o mérito
Fazemos tudo certinho, não atravessamos ninguém
Andamos sempre sozinho, é claro
Junto com os nossos que ajuda no fomento
Porque parceiro é irmão
Faz parte do embolamento
Eu tive a sorte
De ter um cara desse de pai
Igual jogo de baralho, de copa é o meu ás
Não menospreze o seu
A ele dê o valor porque se gerou a ele
E ele te gerou
Procura assim marcar sua trajetória
Nóis é o rap gangueiro
Os vida loka da história
Assim como ele disse que só vou confirmar
2017 trilha veio pra ficar
Hoje minha geração, amanhã o Samukinha
Como não tem mais campinho
Ele brinca na quadrinha
Mas a quebrada é a mesma
Nóis vai manter a raiz
Aqui andar de navera pros bico entortar o nariz
Errar faz parte da vida
Erga a cabeça, conserta
Também dei as cabeçadas
Mas parei na hora certa
Já tô fazendo 18 e vários que tá chamando
Eu de viado, de truta, nas costas
Tudo tramando, a real
Quem tá moscando de verdade sou eu
Que saiu desse meu mundo
Pra ingressar nesse seu
Pequeno, cheio de inveja de quem
Nasceu pra vencer, meu pai só anda sozinho
Hoje entendo o porquê
Aí Diogo Martins me aguarde, eu tô voltando
Quem quer meu bem tá ai
Não onde eu tô andando
Sem saber depois de tanto tempo
Se havia alguém à minha espera
Passos indecisos caminhei e parei
Quero dedicar essa música ao meu amigo
Companheiro de trabalho Douglas
Realidade cruel