O Lenço
O lenço que me ofertaste
Tinha um coração no meio
Quando ao nosso amor faltaste
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o
Ainda me lembro esse lenço
Vindo do teu seio túmido
Escondi-o ainda húmido
Num peito de fogo intenso
Se acaso, hoje penso
Num qual infantil receio
Muito orgulhoso guardei-o
Lamento a minha loucura
Porque esse lenço perjura
Tinha um coração no meio
Esse coração bordado
Por triste sina era o meu
E por isso ele morreu
Quando o lenço foi rasgado
Foi-se a chama do passado
Pois em cinzas sepultaste
Este amor que atraiçoaste
O que serve a dor incalma
Vesti de luto a minh’alma
Quando ao nosso amor faltaste
Beijos, sorrisos e afagos
Me deste, hei de esquecê-los
Pois os teus doces desvelos
Com meus beijos foram pagos
Teus olhos eram dois lagos
Lascivo era o teu seio
Foi tudo efémero enleio
Breve e fugaz ilusão
Magoaste meu coração
Fui-me ao lenço e rasguei-o