Cordeiro de Nana
Fui chamado de cordeiro, mas não sou cordeiro não
Preferi ficar calado que falar e levar não
O meu silêncio é uma singela oração a minha santa de fé
Meu cantar vibram as forças que sustentam meu viver
Meu cantar é um apelo que eu faço a Nanã Ê
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
O que peço no momento é silêncio e atenção
Quero contar sofrimento que passamos sem razão
O meu lamento se criou na escravidão, que forçado passei
Eu chorei, sofri as duras dores da humilhação
Mas ganhei, pois eu trazia Nanã Ê no coração
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê
A Força e a Fé em Cordeiro de Nana: Uma Análise da Canção de Thalma de Freitas
A música Cordeiro de Nana, interpretada por Thalma de Freitas, é uma obra que mergulha nas raízes afro-brasileiras e na espiritualidade ligada aos orixás do candomblé. A letra da canção faz referência direta a Nanã, uma divindade reverenciada nas religiões de matriz africana, conhecida como a orixá dos lagos, pântanos e da morte, simbolizando também a sabedoria e a ancestralidade.
No contexto da música, o eu lírico se identifica como um seguidor de Nanã, negando ser um 'cordeiro', que poderia ser interpretado como alguém submisso ou passivo. Ao contrário, ele se mostra resiliente, preferindo manter-se em silêncio, o qual é descrito como uma 'singela oração'. Esse silêncio pode ser entendido como uma forma de resistência e de conexão espiritual, uma maneira de manter-se firme diante das adversidades, que são aludidas no verso que menciona o sofrimento e a escravidão.
A repetição do verso 'Sou de Nanã Ewá, Ewá Ewá Ê' reforça a identidade do eu lírico e sua ligação inabalável com a orixá. A música, portanto, além de ser um hino de devoção, também pode ser vista como uma celebração da resistência cultural e espiritual dos descendentes de africanos no Brasil. Thalma de Freitas, com sua voz e interpretação, transmite a força dessa mensagem, conectando a luta histórica à fé e à identidade religiosa afro-brasileira.