Amurar Ao Tempo

[Refrão]
Tu, pergunta lá ao tempo
Quando é que o meu tempo vem
O tempo não pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem
Tempo voa, atento soma
Sem perguntar a ninguém
Só me soa a viver sem
O tempo para sentir-me bem
O tempo para sentir-me bem
Sentir-me bem

[Verso 1]
E quando é que passaram estes anos todos?
Eu é que fiz rir os bobos
Mas que corte!
Aqui contam os meus sonhos
Os meus sons falam de cortes e de contos
Episódios mеnos bons
Não vim agradar os outros com esta voz
Não vim contar os meus fortes ou fracassos
Vеnho encarar este espaço
Encarnar os meus passados
Refazer todos os passos
Ou criar os não trilhados
Não tentados a estas novas amizades
Os tentáculos que trago
Amarraram-se ao que falo
E vivemos abraçados
(Neles ainda trago sal de uma ria em que ria)
O que vale é a memória que equivale à fantasia
Uma retórica de cal que me fazia
A brancura não é cristal
Transparência é muito mais
Mas por vezes vejo mal
Não sei atracar no cais
Não caias nesta, é só conversa!
A minha rota não está correcta
A minha frota não está completa
Madeira quebra, não estive alerta
Eu estou aberta àquilo que me afecta
Nunca adepta das minhas mesmas conversas
Apareças ou não apareças
Tenho-as — na cabeça e nas entranhas
(Quantas manhas conheci
Noutra manhã conheci-me)
Eu não durmo só me assisto
Só assim vejo que é tudo tão conciso
Tão sucinto intensivo que transmito-o
Não consigo estar em mim
Há de mim em todo o lado
Estado meu — choveu um quarto
Do inverno neste barco
E eu, sem tempo e aos bocados
Tenho os dedos tão gelados
Que nem posso segurar os meus pedaços para juntá-los
Os meus pedaços para juntá-los (Sim!)
Para juntá-los

[Refrão]
Tu, pergunta lá ao tempo
Quando é que o meu tempo vem
O tempo não pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem
Tempo voa, atento soma
Sem perguntar a ninguém
Só me soa a viver sem
O tempo para sentir-me bem
O tempo para sentir-me bem
Sentir-me bem