Três Carmelitas
Te mando as rimas que há pouco eu fiz
Tem uns buracos, depois ajeito
Vê o que acha e aí me diz
Um troço doido, nem sei direito
A casa antiga que eu conheci
Tinha umas sombras que o sol cortava
A luz de um jeito que eu nunca vi
Tu me sonhando eu te imaginava
Os teus cabelos não tinham fim
Teus brincos tinham memória e plástico
Andamos juntos pelo jardim
Sorrindo, prismas e pérolas e pétalas e pássaros
E eu pressentindo uma coisa ruim
Como um aviso que não chegasse
Te ouvi dizendo “olha o capim”
Cortaram ontem, mas já renasce
Tem uns cavalos, vêm sempre aí
Comer as ramas da cor de azeite
Tu vem mais cedo outra vez daí
De manhãzinha se bebe um leite
Você dizia “mamãe tá aí?”
Ouvindo as gias que raspam os cântaros
Fiz uns desenhos, vem ver aqui
O rosto dela com mirras e cânforas e bálsamos
Flutuar suspende as dores
E sonhar reacende as cores
A casa antiga que eu conheci
Tinha umas sombras que o sol cortava
A luz de um jeito que eu nunca vi
Tu me sonhando eu te imaginava
Ali a tia, tu disse “sim”?
Quando se arreta com os gritos dos bárbaros
Cata umas folhas e traz pra mim
De eucaliptos, ciprestes, de cedros e plátanos
Nem vou falar nas varandas de flores
Flutuar suspende as dores
E sonhar reacende as cores