João do Alto

Siba

João do Alto, voando
Esperando o sinal da criatura

(João do Alto, voando
Esperando o sinal da criatura)

Se parece um deputado
Com paletó bem passado, de linho de pena escura

(João tá lá na altura)

Seu escritório é o céu
Lá despacha sem papel, carimbo e assinatura

(João tá lá na altura)

O seu serviço é comer
E o vivente que morrer sem direito à sepultura

(João tá lá na altura)

Bate ponto no horário
Mesmo sem ser funcionário de nenhuma prefeitura

(João tá lá na altura)

Só se alimenta de graça
Onde encontra uma carcaça mete o bico, rasga e fura

(João tá lá na altura)

Merenda sem reclamar, engole sem mastigar
Porque não tem dentadura

(João tá lá na altura)

Nunca injetou refeição
Come carne e sai no chão pensando que é rapadura

(João tá lá na altura)

Tudo que come pesado, porém não fica empachado
Voando alto se cura

(João tá lá na altura)

Nunca invejou um pavão, que não canta uma canção
Nem se tiver partitura

(João tá lá na altura)

Pode o pavão ter beleza, mas também tem asa presa
E nos ares não se pendura

(João tá lá na altura)

Só respeita o gavião
Por ele ter instrução na mesma literatura

(João tá lá na altura)

Ô a coruja sabida, conhecedora da vida
Sem precisar de leitura

(João tá lá na altura)

Homem empregado da morte
João do Alto tem sorte porque vive na fartura

(João tá lá na altura)

Mas também vai virar pó
Porque o seu paletó a morte também costura

(João tá lá na altura)

João do Alto, voando
Esperando o sinal da criatura

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