O Menino Da Porteira
Toda vez que eu viajava pela Estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo
Toque o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo
Quando a boiada passava e a poeira ia baixando
eu jogava uma moeda e ele saía pulando
Obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando
pra aquele sertão à fora meu berrante ia tocando
Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei
mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada o menino não avistei
Apeei do meu cavalo e no ranchinho a beira chão
Ví uma mulher chorando, quis saber qual a razão
- Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu menino foi um boi sem coração
Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
quando passo na porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem
A cruzinha no estradão do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure, e eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais
A Saudade e o Sertão: A História Contada por O Menino da Porteira
A música 'O Menino da Porteira', interpretada por Sérgio Reis, é um clássico da música sertaneja brasileira que narra a história de um encontro entre um boiadeiro e um menino que vivia na estrada de Ouro Fino. A letra, carregada de emoção e simplicidade, reflete a vida rural e as relações humanas em um contexto de viagens e trabalho no campo. A figura do menino, que se alegra ao ouvir o som do berrante e corre para abrir a porteira, simboliza a inocência e a alegria simples encontradas nas pequenas ações do cotidiano rural.
A narrativa da canção toma um rumo trágico quando, na volta do boiadeiro, a porteira está fechada e o menino já não está mais lá para recebê-lo. A descoberta da morte do menino, causada por um 'boi sem coração', traz uma reviravolta emocional à história, transformando a memória do menino em uma lembrança dolorosa que assombra o boiadeiro. A cruz no estradão serve como um marcador físico e emocional da perda, e o lamento do boiadeiro se mistura com o rangido triste da porteira, que agora carrega o peso da ausência e da saudade.
A música se encerra com a promessa do boiadeiro de nunca mais tocar o berrante naquele pedaço de chão, em respeito à memória do menino. Essa decisão simboliza um juramento de honra e um tributo à vida que foi perdida. 'O Menino da Porteira' é uma canção que fala sobre a dureza da vida sertaneja, mas também sobre a humanidade e os laços afetivos que se formam mesmo nas circunstâncias mais simples. Sérgio Reis, com sua voz marcante e interpretação genuína, conseguiu eternizar essa história em forma de música, tocando o coração de muitos ouvintes com a narrativa desse encontro entre o boiadeiro e o menino da porteira.