Dizes
Dizes que não evoluí
Cinco da matina
Já todos caminham pro mesmo enredo
Porque nos subúrbios o sol levanta sempre mais cedo
É um povo escravizado nesta sociedade de extremos
Trabalham duas vezes mais e ganham duas vezes menos
Sentes o cheiro intenso que esses homens trazem no sovaco
Porque não há desodorizante que abafe
O suor do trabalho escravo
Manos encharcam na bebida todo o espírito frustrado
Por cada garrafa que acaba há uma esposa com olho inchado
Ainda acreditas que o futuro será diferente do passado
Aqui não dá para dormir quanto mais para sonhar és parvo
Aqui o diabo choca e atua
Às vezes para veres o inferno
Basta abrires a porta da rua
Negros dos subúrbios são sempre vistos como gente a mais
Para as discotecas africanas eles são pretos demais
São vinte e suas horas as ainda há gente no trabalho
Porque para os suburbanos a lua levanta sempre mais tarde
Onde a tua mãe aos quatorze engravidou
Onde o teu pai semeou e não ficou
Onde a pobreza penetrou e se instalou
Subúrbios, onde Deus nunca passou
Onde a polícia espancou e assassinou
Onde o meu povo lagrimou e ripostou
Onde o meu flow escureceu e congelou
Subúrbios, onde Deus nunca passou
Dizes que não evoluí