Peculato

Uh-huh
Mo puto

Um roubo só é um roubo quando quem rouba é pobre
O dinheiro nunca volta pra quem enche o cofre
Trabalhamos tipo escravos pra pagar impostos
E depois lá vem o estado pra gastar impostos
O diretor do banco desapareceu com a massa
O primeiro ministro deve muito mais que as massas
Yeah, mas se tu não pagas, és preso
O gajo não paga e é reeleito
Mundo perfeito e tu perguntas se tá certo
Isso não é o mundo dos certos, é o mundo dos pertos
Se eu não 'tiver guita, my nigga, eu invento
Nem vento nem lamentos enchem as bocas que eu sustento
Faço guita na estrada, não é por money que eu rimo
Parece contraditório porque eu próprio afirmo
Que 'tô atrás do money, eu próprio reafirmo
Se rap não der guita, eu volto pra'o abismo

Eu 'tô na mesa com mais velhos a assinar contratos
Orientar a família foi o ultimato
Comprei mais um terreno, o puto tá barato
Tive que bazar da zona porque 'tava gato
Vamos conhecer o mundo com champagne no jato
Agora somos convidados, já ninguém é pato
Como o governo rouba, eu copio e capto
Então quando eu roubar, não é roubo, mano, é peculato

A dar conselhos aos putos da nova escola
Muitos nem sabem que são produto e a nova escolha
É dançar no TikTok
Muitos nem sabem o que fazer com um beatbox
Chamam isso hip-hop, abana o rabo no topo
Eu não desdenho o que fazes porque faço o que eu gosto
Se não me convidarem pra'a mesa, mano, eu faço a minha mesa
Com os troncos das árvores da minha quinta
E sento com os niggas da Linha de Sintra
E com cotas que nunca contaram guita
Eu 'tô a tentar roubar guita tipo o governo
Investir nos hectares e pôr prédios no terreno
E antes de eu morrer de tédio no inverno
Acendo lareiras tipo assédio no inferno
Não há sonho americano no meu sangue
Não quero a Casa Branca, eu só quero a casa grande

Eu 'tô na mesa com mais velhos a assinar contratos
Orientar a família foi o ultimato
Comprei mais um terreno, o puto tá barato
Tive que bazar da zona porque 'tava gato
Vamos conhecer o mundo com champagne no jato
Agora somos convidados, já ninguém é pato
Como o governo rouba, eu copio e capto
Então quando eu roubar, não é roubo, mano, é peculato

Let's get this money, man
Let's get this fucking money

Peculato: Uma Crítica Social Através do Rap de Prodigio

A música Peculato, do artista Prodigio, é uma crítica contundente aos sistemas de poder e à corrupção que permeiam as estruturas governamentais e financeiras. Através de uma narrativa direta e incisiva, Prodigio aborda a discrepância entre as consequências do roubo cometido por pessoas pobres em comparação com as ações corruptas de indivíduos em posições de poder. A letra sugere que, enquanto o cidadão comum é severamente punido por pequenos delitos, aqueles no topo da hierarquia social e política frequentemente escapam impunes, e até mesmo são recompensados, apesar de suas transgressões serem de uma magnitude muito maior.

Prodigio utiliza a música para expressar sua própria determinação em prosperar, apesar das injustiças do sistema. Ele fala sobre a necessidade de sustentar sua família e de fazer dinheiro 'na estrada', mesmo que isso signifique adotar as mesmas táticas questionáveis que critica. A expressão 'peculato', que dá nome à música, refere-se ao crime cometido por um funcionário público que se apropria de bens ou valores aos quais tem acesso em razão do cargo. Ao usar esse termo, Prodigio joga com a ideia de que, se o governo pode roubar sem consequências, então ele também pode, numa espécie de justiça poética ou ironia amarga.

A canção também aborda a influência da cultura e da música na juventude, mencionando o TikTok e o beatbox, e como muitos jovens podem não estar cientes do poder e do impacto de suas escolhas culturais. Prodigio, que é conhecido por suas habilidades líricas e por abordar temas sociais em suas músicas, convida o ouvinte a refletir sobre a autenticidade e as raízes do hip-hop, além de destacar sua preferência por construir seu próprio caminho, em vez de seguir o que é imposto pela sociedade. A música é um chamado para a conscientização e a ação, incentivando a busca por justiça e igualdade, mesmo diante de um sistema falho.