Aliás

Plinio Oliveira

Por toda miséria que existe no mundo
Por toda criança sem educação
Por todos os rádios que vivem ligados
Segundo a segundo em qualquer estação
Por toda política e religião
Invento essa minha canção

Por todos que ganham com a ignorância
Por todos escravos do carnaval
Por todos os bancos e advogados
Que fazem da Terra um planeta legal
Por toda coluna social
Espalho esse canto afinal

Por todo artista que canta o sucesso
Ainda que o povo nem saiba falar
Por toda empreiteira que faz o progresso
Enquanto o peão nem tem onde morar
Por toda indignação
Eu faço essa minha canção

Aliás
Não deixe agora eu te distrair
A vida não pára, você deve seguir
Ganhar seu dinheiro, comprar e vender
Quem é que tem tempo a perder?
Melhor é tentar esquecer
(Melhor é fingir não saber
Melhor é fingir nem me ver)

Por todos motéis e bordéis moderninhos
Por toda chacina sem explicação
Por todos os homens que gritam sozinhos
Por todas as drogas da televisão
Por toda essa gente no chão
Eu choro essa minha canção

Por todos os shows entupidos de jovens
Por todos cursinhos pro vestibular
Pelos sexy symbols, todos top models
Por todas as modas que vão estourar (e passar)
Por toda essa história irreal
Eu falo um poema sem sal

Por todos os nomes geniais do congresso
Por todos os prêmios sorteados no ar
Por todo infeliz preconceito confesso
Por todo desprezo escondido no olhar
Como um boxeador de milhões
Eu choro essas minhas canções

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