Santo Amaro
Eu ia a pé lá da ladeira Santo Amaro
Até a Rua do Catete
No sobrado onde você residia
E te levava pra um passeio em Paquetá
Onde nasceu num piquenique
O nosso rancho, o Ameno Resedá
Verde, grená e amarelo, nossas cores
Resedá, vocês são flores como flor
Era a Papoula do Japão
Sua rival saiu no Flor do Abacate
De destaque no enredo da Rainha de Sabá
Os lampiões, os vagalumes
Você triste, com ciúmes
Eu charlando, resmungando
Que melhor era acabar
Pobre farsante de teatro ambulante
Meu amor de estudante
Não soube representar
E o casamento aconteceu
Vieram filhos, muitos netos
Muitas dores, muitos tetos
Mas o amor a tudo isso ultrapassou
Hoje, sozinho, eu voltei feito andorinha
À Pedra da Moreninha, onde tudo começou
Olhando o mar, pensei na vida ao seu lado
Como um choro do Callado
Um piano em Nazareth
Saudade grande o dia inteiro
Mas com jeito de alegria
Do pandeiro do Gilberto no Jacob
Pra cada dó, um sol maior, um lá sereno
A harmonia do Ameno, o amor do Resedá
Eu, funcionário aposentado
Coração não conformado
Antigo e novo, feito lua em Paquetá
Passou a vida com os ranchos desfilando
União da Aliança caprichosa em estrelas, desenganos
Desci por ela como desço ainda hoje
a ladeira Santo Amaro até o sobrado
Que o metrô matou
Bom era ir batendo perna
Tomar chope na Taberna
E outra história, é uma glória
Ser da Glória, o que é que há?
O rosto dela vela o Rio de Janeiro
Como a virgem do Outeiro
Guarda o Ameno Resedá