Procissão da Saudade
Quando levei o meu pai
Pra visitar os parentes
Ele já estava bem velho
Também bastante doente
Mesmo assim deu pra rever
Seu mundo de antigamente
Nos caminhos do passado
Senti que o velho cansado
Se remoçou novamente
Eu mal parecia que estava
Seguindo uma procissão
Daquelas que o povo faz
Sexta-feira da paixão
Andando devagarinho
De estação em estação
Num ponto do seu percurso
Parou e fez um discurso
Na frente de um carretão
Carretão de Cabreúva
Pelo tempo corroído
Olhando seu cabeçalho
Voltou ouvir os gemidos
Dos bois que ele ensinou
O Mocinho e o Bandido
Quando foi falar do resto
Eu notei pelo seu gesto
Que ele estava comovido
Foi discursando baixinho
Com a voz meio entalada
No dia que me casei
Você levou minha amada
Ficou flor de laranjeira
Nos fueiros enroscadas
Meu Deus que tamanha dor
Quando levou o meu amor
Pra derradeira morada
Tomado pela emoção
A cabeça ele abaixou
Partiu pra outra estação
Do carretão se afastou
Me disse, vou ficar só
E sozinho caminhou
Foi até lá na pracinha
Depois entrou na igrejinha
E a tarde inteira ficou