TRINCHEIRA

Paulino Neves

Vou aqui da minha trincheira
Só na dianteira de um novo vapor
Mandando um tributo a um grande sambista
De tanto que a malandragem me cobrou
Pensando bem, teoricamente, o contemporanismo uniu nosso som
Venho nessa batida desde criança,
Na minha lembrança só partido do bom
E, recentemente, por um Zé qualquer
Também fui classificado como sambandido
Se eu dormir no barulho desse Zé Mané
Vou ser mela cueca ou sambobo vendido


Canto assim desde moleque
Vem do tempo dos blacks a minha bagagem
Em resposta a esse produtor de b...
Vou mandando minha homenagem
Desde de criança eu dei valor
Ao seu combate à pilantragem!
Talvez seja por isso que ele se tornou
O embaixador da malandragem


Pernambucano, nordestino de sorte
Veio pra Guanabara escondido num navio
Produto do Morro só idéia forte
Partido-alto de malandro ressurgiu
Depois de três anos da sua morte
Tem saudade o Rio, ainda chora o Brasil


Estou falando de um partideiro
Que não só a malandragem consagrou
Com o seu jeito malandro de protestar
O povo brasileiro se identificou
Comigo também a parada é indigesta,
Não faço festa e nem pago madeira
Pra quem fica de tocaia espiando por fresta
E quando se manifesta é só pra dar rasteira
Semelhanças à parte no estilo e no canto
Entendo perfeitamente a viagem do velho
Que Jesus lhe cubra com seu sagrado manto
No final da sua vida aceitou o evangelho


Precursor de um som indigesto
Sua idéia tá viva naquele moleque
Que realmente intencione em seu manifesto
Ser a cara nova do mesmo protesto
Eu vejo muito trabalhador
Se identificar com sua mensagem,
Mas também Jorge Ben um dia profetizou
Conheço malandro honesto só por malandragem


Neguinho da Beija-Flor é autor da frase
Que o Bezerra citou, mas tem reciclagem
O mundo mudou e tem malandro sem base
Pagando de malandro sem nenhuma malandragem.
Se todo o mundo é malandro, o mané quem é?
Pode ser até quem bate o pé que não é!


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