Portão Preto
Portão preto, eu ouvi dizer
Há muitos anos passado
Que aqui ninguém passava
Porque ele era assombrado
Todo mundo me dizia
Caboclo toma cuidado
Que algum dia vancê vai vê
Como ele é encantado
Um dia fora de hora
Quando eu passei no portão
O marvado abriu sozinho
Eu nem cheguei pôr a mão
O meu corpo arrepiou
Eu fiz a minha oração
Ouvi o som de uma viola
Que fez doê meu coração
Aquela viola tocando
Parece que inté falava
Foi assim que eu compreendi
Que era uma alma que penava
Quanto mais eu ia rezando
Mais perto se aproximava
Eu ouvi uma voz tristonha
De um caboclo que falava
Fui caboclo violeiro
Percorri o Brasil inteiro
Pra vancê eu vou contar
De uma promessa que eu fiz
E depois eu não cumpri
Por isso eu vivo a penar
Aqui neste portão preto
Que é meu querido leito
Eu já não posso deixar
Sei que um dia chegasse
Um caboclo que esperasse
Somente pra me salvar
Foi triste meu juramento
Que eu fiz no pensamento
De rezar pra São Gonçalo
É por isso que agora
Tô sofrendo até a hora
De pagar o meu pecado
Então fique sossegado
Jogue a viola pra um lado
E não volte mais aqui
Ele sumiu nesta hora
E acabou-se a triste história
Ninguém vê o portão abrir