Floreando a Cordeona

Num tranco campeiro bem à moda antiga
Floreando cantigas de alma judiada
Eu trago essa sina de andar gauderiando
Por viver cantando não tenho morada
Tocando em bailantas na noite campeira
Floreio e vaneira num jeitão largado
Pois o meu destino é de ser cantador
Na querência flor onde eu fui criado

Floreando a cordeona num verso me acampo
Sou a voz do campo quando a alma canta
Sistema gaúcho que tem por ofício
Esse xucro vício de animar bailantas

Cruzando caminhos encurto distâncias
Galopeando as âncias da sina estradeira
A vida no campo moldurou minha raça
Herança machaça gaúcha bandeira
Nesses horizontes vou de pago em pago
O canto que trago ao mundo ofereço
Canto a liberdade num viver teatino
E no meu destino ninguém bota preço

A Alma Gaúcha em Versos: Uma Análise de Floreando a Cordeona

A música Floreando a Cordeona, interpretada pelo grupo Os 4 Gaudérios, é uma expressão autêntica da cultura gaúcha, que se manifesta fortemente no Sul do Brasil. A letra da canção é um retrato poético da vida do homem do campo, do peão que vive a percorrer os pagos, ou seja, as localidades rurais, levando consigo a música como companheira e meio de vida. A 'cordeona', termo carinhoso para a gaita, é o instrumento que acompanha o cantor, sendo floreada, ou seja, tocada com maestria e ornamentação, característica marcante da música tradicionalista gaúcha.

O eu lírico da canção se apresenta como um andarilho, um 'gaudério', termo que no Rio Grande do Sul é sinônimo de gaúcho valente e destemido. Ele descreve sua sina de 'andar gauderiando', ou seja, vagando sem destino fixo, mas sempre ligado às suas raízes culturais e à sua arte. A música fala de uma vida sem morada fixa, mas rica em experiências e em contato com a natureza e as tradições. A referência a 'bailantas', que são os bailes típicos da região, mostra a importância da música e da dança na vida social do campo.

A letra também aborda a relação do cantor com a liberdade e a identidade cultural. O 'sistema gaúcho' mencionado é um modo de vida, uma tradição que se perpetua através da música e da poesia. O cantor se orgulha de sua herança, que é descrita como 'machaza', uma palavra que evoca a força e a rusticidade do povo gaúcho. A música, portanto, é um hino à liberdade e à cultura do Rio Grande do Sul, celebrando a vida do peão que, apesar das dificuldades e da 'alma judiada', encontra na arte um propósito e uma forma de resistência cultural.