Ai, Que Saudades da Amélia
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, o que se há de fazer!
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
A Nostalgia de uma Mulher Idealizada em Ai, Que Saudades da Amélia
A música Ai, Que Saudades da Amélia, composta por Ataulfo Alves e imortalizada na voz de Mário Lago, é um clássico do samba brasileiro que retrata a figura de uma mulher idealizada, Amélia, em contraste com as mulheres da época em que a canção foi lançada, na década de 1940. A letra expressa a nostalgia de um homem que se ressente das exigências de sua atual companheira, comparando-a com a submissão e simplicidade de Amélia, que ele considera o parâmetro de 'mulher de verdade'.
A canção utiliza a figura de Amélia como uma metáfora para discutir as mudanças nos papéis sociais das mulheres. Amélia é descrita como alguém que aceitava passar necessidades sem reclamar, valorizando a resignação e a falta de vaidade como virtudes femininas. A letra reflete um saudosismo de uma época em que as expectativas em relação às mulheres eram de total dedicação ao lar e ao parceiro, sem aspirações pessoais de luxo ou riqueza. A música, portanto, pode ser vista como um comentário sobre as tensões geradas pelas transformações nos costumes e na dinâmica de relacionamentos.
É importante notar que, apesar de Ai, Que Saudades da Amélia ser frequentemente interpretada como uma ode à mulher tradicional, a canção também pode ser entendida como uma crítica à idealização da mulher e à desvalorização de suas aspirações e necessidades. A Amélia da música é um ideal inatingível e, possivelmente, uma crítica à expectativa irreal que a sociedade impõe sobre o comportamento feminino. A canção se tornou um marco na cultura brasileira, sendo regravada por diversos artistas e permanecendo relevante como um retrato de seu tempo e como ponto de reflexão sobre as relações de gênero.