Querubim

Leninha Prado

Era um anjinho escondido atrás da casa
Logo eu que tinha asas trocava as cores do céu
Eu só queria atravessar o dia inteiro
Colorindo o meu terreiro
Com as cores do meu pincel


Era o meu ninho escondido atrás da casa
Logo eu dono da asa trocava as cores do ar
Eu só queria atravessar o meu terreiro
E colorir o mundo inteiro
Com as cores do meu olhar


De rosto manso trazia um sonho pequeno
E de semblante sereno, sorria sem perceber
Me embriagava de afinidades com a Lua
E a garotada da rua ficava por entender


Era impossível esconder o meu segredo
Pois a regra do brinquedo exigia pés no chão
Eu bem sabia que esta vida continua
Mas as palavras da Lua tinha força de expressão


Era de fato uma ironia do destino
Pois o pobre do menino mal sabia soletrar
A poesia que encontrava trás dos montes
Que cercavam os horizontes e permitiam sonhar


Era motivo de reunião na calçada
Tantos recados da fada pra fugir da obrigação
E a vizinhança se apossava da lembrança
De seu tempo de criança que fugiu do coração


E essa agora eu era feio alma penada
Assustando a meninada com argumentos profundos era feliz
Se não me falhe a memória
Hoje eu sei que a minha história se espalhava pelo mundo


Sabia tanto esconder-me atrás do manto
Que era chamado de santo sem menor razão de ser


Mas na verdade era justa confiança
Se o poeta é criança, o que se há de fazer?

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