Caminhos da Vida
Caminhos da Vida
Onze anos na estrada, cumprindo minha jornada; com a carreta a
viajar.
Em uma dessas viagens, meu bateu um cansaço, parei num posto
para descansar!
Já era de madrugada quando um anjo me acordou
Me incumbindo de um frete que São Cristóvão determinou
Você vai para Holambra, carregar lá na cidade das flores...
Pode ficar sossegado que eu te aviso quando o caminhão estiver
carregado
É para o céu que você vai viajar!
No mesmo instante me disse, vá, está tudo pronto e você não pode
demorar!
Não precisa nem de ajudante, mas leve este gravador, eu sei que
vai precisar.
Quando eu cheguei no céu, muita gente a me esperar!
Foram gritando:
Olha o caminhão da Morada vamos com o motorista conversar:
Todos queriam contar sua mágoa, sua dor;
Foi aí que eu entendi, o porque do gravador:
Para gravar mensagens de paz e trazer a este povo sonhador!
Comecei formar uma fila para não tumultuar
Toninho Boiadeiro, Renato Cordeiro e o Gilberto Preto
Tiveram que me ajudar!
Uma jovem sorridente pediu: deixa eu falar primeiro!
Beto Belentano reconheci seu caminhão, eu vi o letreiro;
Meu pai trabalhou com o Senhor, sou filha do André Monteiro!
Nisso um Senhor com olhos rasos d'água pediu para sua historia
contar
Outro gritou lá do fundo, seja rápido que a fita do gravador
pode acabar!
Eu tinha um 113 de caçamba, trabalhava na região de Piracicaba,
Rio das Pedras e Mombuca, até que um dia eu fui assassinado
na rodovia do açúcar.
Um outro caminhoneiro me mostrou um sinal profundo nas mãos e
dos pés
Viajava sempre sozinho, vejam só como é que é
Até que um dia eu carreguei, em Tuneiras D' Oeste no Paraná, uma
carga de café
Com destino à São Paulo, cidade de Avaré
Roubo de carga, quadrilha não deixa pista, leva a carga
E na maioria das vezes a vida do motorista.
Chega agora um moço alto, de olho azul, pelo sotaque notei que
era do sul
Quero contar o meu passado:
Parei para trocar um pneu que havia furado, inocente não
percebi
Dois homens atrás de mim, fortemente armados,
Um falava no celular, o outro me mantinha deitado.
Nos olhos dos dois o ódio estava estampado
É verdade eu não minto, deu até pra ouvir o estampido da 765
Quando o gatilho foi acionado!
Um outro me pediu, grave aí minha historia:
Pelo sotaque forte, era um caboclo do norte
Trazia uma rede no ombro e uma toalha no pescoço
Pedi silencio, vamos ouvir este moço!
Meus amigos vejam como eu fazia:
O dia pra mim era noite e a noite pra mim era dia!
Carregava no Nordeste e chegava em São Paulo chinelando o câmera
fria.
Viagem de 48 no meu 16-18 eu fazia em 38!
Mas foi na Rio Bahia, na madrugada de um certo dia,
o fim da minha história seu moço!
Me chamaram de conterrâneo, abracei os dois e senti vontade de
chorar.
Chorando um deles disse:
Viajávamos contentes, era tudo maravilha,
De repente uma batida de frente, acabou tudo na Belém/Brasília.
A notícia chegou de imediato, o povo não quis acreditar...
A cidade de Borborema, no interior de São Paulo
ficou três dias parada, esperando a gente chegar,
O povo ficou emocionado ao ver o que tinha sobrado do Ninão e do
Dito Araçá!
Na seqüência chegou um moreno sorridente
E parando na minha frente disse grave aí um recado meu:
Peço calma aos motoristas, os acidentes ainda são constantes,
Eu também perdi a vida, na via dos Bandeirantes!
Nem lembro a velocidade que eu desenvolvia,
afinal era uma BMW, o carro que eu dirigia!
Diz pro meu amigo seguir em frente sua missão, pois toda vez que
ele canta aí;
Eu o acompanho daqui no refrão!
Até um estúdio tem aqui pra nós, eu vou gravar com o Pardinho;
Com o Tião Carreiro eu não combino a voz!
Evaldo Braga, Moraci, Duduca, Jessé, João Pacífico,
Cezar Rossini, Gonzagão e Gozaguinha, Xavantinho
Barrerito, Sandro, Leandro, Belmonte e Zilo
Eles também cantam com a gente,
fazemos uma mistura de voz, em duetos diferente!
Fora da fila, notei uma alegria de como quem brinca um menino,
Dei um abraço forte, era o tropeiro João Palestino!
Vem chegando um baixinho gesticulando.
É um moço que há muito tempo aqui no céu está cantando!
Neste momento eu disse: Eu te conheço?
Ele disse: Guri eu acho que não, pois quando eu vim pra cá
você ainda era um piazão!
Aproveito a oportunidade de pedir um favor atual,
para que você realize um desejo meu:
Sei que você é o caminho, peça pro Negrão tocar minha música
no Programa do Ratinho!
Aquele sujeito é batuta, anda com o povo na linha.
Agradeça a ele por nós e mande um abraço do gaúcho Teixeirinha!
Nisso recebi um bilhete de um senhor educado, que dizia assim:
Na sua próxima viagem traga uma foto de Itápolis para mim
Lá tem uma rua que tem o mesmo nome meu
Nela plantei algumas árvores, quero ver se já cresceu!
Dei um abraço em Zé Fortuna, o meu coração doeu.
A fita estava acabando,
quando alguém vestindo um terno branco e de microfone na mão
disse:
Cowboy da Estrada deixa eu te dar um abraço apertado
Reconheci, era Zé do Prato locutor apaixonado!
E ele disse:
Este microfone era do Marco Brasil, mas agora é meu;
Ele veio narrar um rodeio aqui no céu e de lembrança me deu!
Zé do Prato tinha na mão um tanto de oração e falou assim
comigo
Entregue essas orações a esses grandes amigos:
Jorge Moisés, Ivan Diniz, Piracicabano, Barra Mansa, Lalau dos
Santos,
Alan Coelho, Donizete Alves, Asa Branca, Capixaba, Sebastião
Ribeiro Chá!
Essa é para o Juliano Cesar, pra ele guardar no chapéu
Pois ele vive dizendo que eu sou o locutor aqui do céu.
Beto, esta é especial,
Entrega para o moço que contou um sonho e o mundo inteiro
ouviu,
Essa é para o Marco Brasil:
Marco Brasil, do rodeio que você fez aqui o povo ainda sente
saudade sua;
Os seus versos engraçados um anjo para de falar o outro
continua
Pediram até pra eu te imitar, não sei se vou saber
Não é o meu estilo, não tenho nada ensaiado, vamos ouvir o que
vai acontecer:
Alô, alô meu povão apaixonado,
Alô meu povo, tche, tche, tche!!!
E foi assim, com esta voz sumindo que acordei assustado;
na boleia do caminhão com o travesseiro molhado.
Mas logo o susto e a tristesa pela alegria foram trocados
Lembrei então daquelas mensagens e uma esperança surgiu
Tenho que contar pra todo mundo:
Na forma deste poema narrado por Marco Brasil!