Curva do Poente
Na sombra do meu presente
Levitando cochilei
No negativo da mente
As lembranças revelei
Estampando meu passado
E no tempo eu voltei
E no colo da infância
Embalado na distância
Na palhoça eu acordei
Me vi fazendo um castelo
Com areia no quintal
E um casal de rolinhas
Comendo arroz no jirau
Vi minha mãe no fogão
Preparando o meu mingau
Também meu irmão do meio
Fazendo seu galanteio
Num cavalinho de pau
Senti o cheiro do jasmim
Na entranha das narinas
Vi pitando um palheiro
Limpando as bordas da mina
Vovô com o chapéu de palha
Calça rancheira e botina
Ouvi um galo cantar
Vi o Sol se levantar
Na alvorada matutina
Eu o meu pai erguendo
O mastro de São João
Vi minha mãe em novena
Com seu rosário na mão
E no calor da fogueira
Projetei minha ilusão
Me sentindo independente
Na magia inocente
De um bigode de carvão
A buzina de um carro
Me assustou de repente
Num relance retornei
Ao real tempo presente
Longe da felicidade
Da saudosa minha gente
Eu chorei para ser franco
Vendo meus cabelos brancos
Já na curva do poente