O Menino de Sua Mãe

Fernando Pessoa

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas trespassado
Duas, de lado a lado
Jaz morto, e arrefece

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos
Alvo, louro, exangue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem, que jovem era
Agora que idade tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera
O menino de sua mãe

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe, está inteira
É boa a cigarreira
Ele é que já não serve

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo
A brancura embainhada
De um lenço, deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo

Lá longe, em casa, há a
Prece
Que volte cedo e bem
Malhas que o Império tece
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

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