Um Bagual Corcoveador
A tropa vinha estendida
Pastando no corredor
Eu empurrava culatra
E também fazia fiador
Num bagual gordo e delgado
Arisco e corcoveador
Que se assustava da estaca
E da sombra do maneador
É brabo a vida de um taura
Que só trabalha de peão
Nisso uma lebre dispara
Debaixo de um macegão
Meu pingo só deu um coice
Escondendo a cara nas mãos
Saiu sacudindo o toso
E cravou o focinho no chão
Tentei levantar no freio
Mas era tarde demais
Eu vi uma poeira fina
Formando nuvens pra trás
Berrando se foi á cerca
E cruzou pro lado de lá
Parecia uma tormenta
Cruzando em Massambará
Se enganchava nas esporas
Sobre a volta do pescoço
Cortando couro com pêlo
E tirando lascas de osso
Naquele inferno danado
"Bombiei" pro meu cebolão
Regulava quatro e pico
Numa tarde de verão
Senti a força do vento
Me arrancando dos arreios
E aquele bicho parecia
Que ia se rasgar no meio
Deixei manso e de confiança
Montaria de patrão
Pois honro o nome que carrego
Me orgulho de ser peão
A Vida de Peão e a Corcoveada da Tradição: Uma Análise de Um Bagual Corcoveador
A música Um Bagual Corcoveador, interpretada por João Luiz Corrêa, é uma expressão autêntica da cultura gaúcha, onde o termo 'bagual' refere-se a um cavalo selvagem ou pouco domado, e 'corcoveador' descreve a tendência do animal de dar coices e saltos bruscos. A letra da música narra a experiência de um peão que lida com um cavalo particularmente difícil, destacando a bravura e a habilidade necessárias para domar tal animal.
A narrativa começa com o peão descrevendo o cenário de trabalho, onde ele está empurrando a tropa de gado. O foco rapidamente se volta para o cavalo arisco que ele monta, um animal que se assusta facilmente e é difícil de controlar. A letra prossegue com a descrição de um incidente em que o cavalo se assusta com uma lebre e, em um movimento brusco, desequilibra o peão. A cena é descrita com intensidade, utilizando metáforas como 'parecia uma tormenta cruzando em Maçambará', que evocam a força da natureza e a luta do homem para manter o controle.
O refrão, repetido várias vezes, reforça a ideia de que, apesar dos esforços do peão para controlar o animal com o freio, a situação já estava além do controle. A música culmina com o peão sendo arrancado dos arreios pelo vento, uma metáfora para a força indomável do cavalo. No entanto, ele não perde o orgulho de sua profissão, afirmando que honra o nome que carrega e se orgulha de ser peão. A música, portanto, celebra a identidade do trabalhador rural gaúcho, sua conexão com a terra e os animais, e a honra em enfrentar os desafios impostos pela natureza e pela vida no campo.