O Conto do Pintor
Desembarquei fantasiado de pintor
No aeroporto já encontrei o Ibrahim
Fez um discurso e apresentou-me ao Dourado
Que deu de cara um apartamento para mim
-Macalé, vais levar um magnífico triplex, agora preferes morar em francês, inglês, russo ou italiano? Temos os edifícios polvalirios ou os edifícios André Breton, Igor Stravinsky, spaghetti, Hollywood center. Você entra pelo hall, passa pelo living room, se quiser, naturalmente, passa pelo bathroom, vai direto ao room, e da janela o paraíso!
-Muito obrigado, heh, muita gentileza da sua parte. Eu não mereço tanto!
Fomos direto ao museu de arte moderna
A grande obra de madame Guiomar
Condecorando-me com a ordem do vaqueiro
O Tinhorão quase chegou a me estranhar
-Calma! Calma, senhor crítico! Calma! Como bem sabe, eu também sou um protetor e admirador das artes e manhas do Brasil!
Mas ali mesmo demonstrei o meu talento
Pintei triângulos redondos e um quadrado todo oval
Eles olhavam perturbados e diziam
"Esse Macalé é um artista genial!"
Mais que depressa eu vendi noventa quadros
Depois de dar uns dois ou três em benefício
Entrevistado pelo Sérgio Chapelin
Eu respondi "ora, que nada, é meu ofício"
Pintei vassouras com feitio de espadas
Pintei espadas qual vassouras
Retirei-me do local
Mas a ilustríssima platéia delirava
"Esse Macalé é um artista genial!"
Pintei um quadro só por fora das molduras
Eu joguei tinta nas paredes todo mundo achou legal
Eu comi rosas e as madames exclamaram
"Esse Macalé é um artista genial!"
E eu que não pintava nem nos muros da Central!
Mais que depressa eu vendi noventa quadros
Depois de dar uns dois ou três em benefício
Entrevistado pelo Sérgio Chapelin
Eu respondi "ora, que nada, é meu ofício"
Pintei vassouras com feitio de espadas
Pintei espadas qual vassouras
Retirei-me do local
Mas a ilustríssima platéia delirava
"Esse Macalé é um artista genial!"
Fui à Brasília dei um quadro de presente ao maioral. Era um triângulo redondo, e ele até que achou legal!