Os Quero Queros Nos Dizem
Alguém nos ronda a casa
E a cuscada faz retoço
Os quero-queros nos dizem
Toma cuidado seu moço
São foices e ideias tolas
Nos passos de um invasor
São comandados qual tropa
Tocada num corredor
Quem ronda veio de longe
De uma vila da cidade
Traz pela mão um menino
Que não sabe da maldade
Traz na outra uma angústia
E a sua raiva por instinto
Se juntam frente a porteira
Mostram seus olhos famintos
Clamam por terra, senhores
Sem terem respeito a ela
Rompem as divisas do campo
Pra transportar as favelas
Querem a terra de muitos
Que sobrevivem também
Da força das próprias mãos
Sem pedir nada a ninguém
Trazem armas, não palavras
Nem sementes na bagagem
Acampam beirando a estrada
Pois sempre estão de viagem
E um quero-quero de longe
Alguma coisa nos diz
Que ainda vou pagar o preço
De uma conta que não fiz
Alguém nos ronda a casa
Sem nos pedir permissão
Acenam bandeiras rubras
E nos falam em invasão
São qual rio em chuva grande
Que desviou do seu leito
E querem levar água abaixo
O que é nosso por direito
Quem planta prova seu suor
E quanto é justa a colheita
Quando eu cheguei nesta terra
As leis já estavam feitas
Porque faz tempo que se fala
E pouca coisa se faz
E os quero-queros nos dizem
Que o campo clama por paz