Na Invernada do Vento
Meu mouro troca pisadas
Num escarceio de crinas
Atira baba pra cima
Troca orelhas meio inquieto
Parece que vai por diante
Olfateando um pensamento
Ou então ele e o vento
Conversam o mesmo dialeto
Nem bem eu tinha cruzado
A porteira da invernada
A gadaria espalhada
Entre coxilha e varzedo
Um vento soprou cortando
Surgindo assim num repente
Deixando a alma da gente
Mesmo emponchada com medo
É sempre pelos agostos
Que este vento se alvorota
Vem destes lados da grota
Cruzando junto à tapera
De bom só traz o aroma
Das flores das laranjeiras
E o assobio das taquareiras
Que de longe reverbera
É barbicacho nos queixos
Pra sustentar o chapéu
Quando resolve em escarcéu
Topar meu poncho cinzento
É grito pra gadaria
Esporas juntando o mouro
E latidos de cachorro
Contra os desmandos do vento
Sempre é por esta invernada
Que o vento se aquerencia
Banha cedo um lindo dia
Quando ajeitava a encilha
É só apeiar na porteira
Onde a invernada começa
Que este vento logo empeça
A galopear da coxilha
Não sei se sopra por gosto
Ou se sopra por maleva
Se não for taura não leva
O gado pro paradouro
Porque este vento tem ganas
De esparramar os terneiros
Ainda bem que sou campeiro
Tenho a cuscada e meu mouro