Saia Da Herança

João Monge, António Zambujo

(Então, como é que eu comecei a costurar?)

Da saia fiz o meu lenço
Do pano que me sobrou
(Então, é...)
(A minha mãe costurava em casa)
(Então eu cresci a ver isso)

São bainhas do que penso
(A minha relação com os trapos é uma coisa muito...)
(É muito natural)
São panos de quem eu sou
(A minha mãe fazia-me roupa p'ra mim e p'ros meus irmãos)
(Não comprávamos, não havia, não dava p'ra comprar)

Este vento é de cambraia
(Ainda hoje fazemos desfiles de roupa em casa)
É de sal quando anoitece
Eu fiz um lenço da saia

(Esta coisa que a roupa tem de nos representar)
(De mostrar)
Para esconder o que entristece
(Tenho sempre agulhas comigo)
(Sempre linhas)

Quem a despir vai ao fundo
(Compro tecidos por qualquer lugar onde passo)
Amor, sangue, saudade
Esta saia é o meu mundo
Não se pode amarrotar
(Com texturas que dizem alguma coisa)

É uma herança singela
Que foi talhada à medida
Quando a penduro à janela
É a bandeira da vida
Quando a penduro à janela
É a bandeira da vida

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