Língua de Pilão

Elza Soares

Chorou, chorou
Quando deu meia-noite esse pobre menino chorou

Galo cantou meia-noite no meio da plantação
Meu café só sai gostoso quando tiro do pilão
Negra da canela fina, preferida do feitor
Foi-se embora pra fazenda, três vinténs foi quem comprou

Negro do pé espalhado, nunca foi trabalhador
Era muito respeitado, pois foi guia do feitor
Feiticeiro nhonhô

Eu fui pau, chicote e pedra
Pedra, pó, chicote e pau
Eu rezava Ave Maria
Pedindo agô pra livrar-me do mal
Jogando maculelê, congo, jongo, capoeira
Dia e noite, noite e dia, de segunda à sexta-feira

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