Poeira da Estrada

Levantei a tampa, voltei ao passado
Meu mundo guardado dentro de um baú
Encontrei no fundo todo empoeirado
O meu velho laço bom de couro crú
Me vi no arreio do meu alazão
Berrante na mão no meio da boiada
Abracei meu laço velho companheiro
Bateu a saudade, veio o desespero
Sentindo o cheiro da poeira da estrada

Estrada que era vermelha de terra
Que o progresso trouxe o asfaltado e cobriu
Estrada que hoje chama rodovia
Estrada onde um dia meu sonho seguiu
Estrada que antes era boiadeira
Estrada de poeira, de sol, chuva e frio
Estrada ainda resta um pequeno pedaço
A poeira do laço que ainda não saiu

Poeira da estrada só resta saudade
Poeira da cidade é a poluição
Não se vê vaqueiros tocando boiada
Trocaram o cavalo pelo caminhão
E quando me bate saudade do campo
Pego a viola e canto a minha solidão
Não me resta muito aqui na cidade
E quando a tristeza pega de verdade
Eu mato a saudade nas festas de peão

Saudade e Modernidade na Poeira da Estrada de Daniel

A música Poeira da Estrada, interpretada pelo cantor sertanejo Daniel, em parceria com Zé Camillo, é uma verdadeira viagem ao passado e uma reflexão sobre as mudanças trazidas pelo progresso. A letra começa com o eu-lírico abrindo um baú e encontrando objetos que o remetem a um tempo antigo, mais especificamente ao seu velho laço de couro cru, símbolo de uma vida ligada ao campo e às tradições rurais. A imagem do baú funciona como uma metáfora para a memória e a nostalgia, elementos fortes em toda a composição.

O cenário descrito na canção é um contraste entre o passado e o presente. A 'estrada vermelha de terra', que antes era percorrida por vaqueiros e boiadas, agora é coberta pelo asfalto, transformada em rodovia. Essa mudança simboliza o avanço do progresso e a perda de um estilo de vida mais simples e conectado com a natureza. A poeira da estrada, que dá nome à música, representa tanto a realidade física da vida no campo quanto a saudade de um tempo que não volta mais.

Daniel, conhecido por seu repertório sertanejo que frequentemente aborda temas do universo rural, utiliza a música para expressar a melancolia diante da modernização e a perda das tradições. A saudade é um tema recorrente no sertanejo, e Poeira da Estrada a aborda de maneira poética, mostrando que, apesar das transformações, ainda há resquícios do passado, como 'um pequeno pedaço' da estrada de terra e a 'poeira do laço'. A música também destaca a adaptação à vida urbana e a busca por momentos de conexão com as raízes, como nas festas de peão, onde o eu-lírico encontra alívio para sua solidão e tristeza.