Dez Mandamentos Da Favela

Vou falar agora, vê se não bate biela
Os dez mandamentos que tem dentro da favela
O primeiro mandamento é não "cagüetar"
"Caguete" na favela não pode morar
O segundo mandamento, já já eu vou dizer
Com a mulher dos amigos não se deve mexer
O terceiro mandamento, eu vou dizer também
É levar "no brindão" e não dar volta em ninguém
O quarto mandamento, não é difícil de falar
Favela é boa, a escola, mas não se deve roubar
O quinto mandamento, boladão estou
Vou rasgar de G3 o safadão do encharcador

(Tá no esquema? Então vai!)

O bonde é do espelho
O gato é preto, a chapa é quente
E o comando? (Bota pra cantar, vai!)

O bonde é do espelho
O gato é preto, a chapa é quente
E o comando?

Aonde eu nasci, tem que saber viver
Estou me referindo a minha C.D.D.
Malandro desde pequeno, sempre em busca da paz
Nós somamos, dividimos, mas diminuir jamais
A nossa união é coisa natural
E a simplicidade é mesmo divinal
Mas se tu tá de mancada, você vai virar raiz
Peixe morre pela boca
Só pra tu se ligar, eu vou dizer como é que é
Coração de vagabundo bate na sola do pé

E se o gato passar, não se assuste não
E se a chapa esquentar (vagabundo!), é cobrança irmão
E se tu quer jogar, vê se joga no espelho
O gato é preto, a chapa é quente e o comando
O bonde é do espelho
O gato é preto, a chapa é quente e o comando...

Os Códigos de Conduta da Favela em Versos: Uma Análise de Dez Mandamentos Da Favela

A música Dez Mandamentos Da Favela, interpretada pela dupla Cidinho e Doca, é um retrato das regras não escritas que regem a vida nas comunidades carentes do Rio de Janeiro. A letra da música, carregada de gírias e referências ao cotidiano das favelas, apresenta uma série de normas de conduta que são valorizadas e, muitas vezes, necessárias para a sobrevivência nesses locais.

Os 'mandamentos' citados na música são uma espécie de código de ética informal, que inclui regras como não trair a confiança dos outros ('não cagüetar'), respeitar relacionamentos ('com a mulher dos amigos não se deve mexer') e ser leal ('não dar volta em ninguém'). Essas regras refletem a importância da confiança e do respeito mútuo em um ambiente onde as instituições oficiais muitas vezes não conseguem penetrar ou oferecer proteção adequada.

A música também aborda a realidade da violência e da criminalidade, com referências a armas ('vou rasgar de G3') e à vigilância constante ('o bonde é do espelho'). A expressão 'o gato é preto, a chapa é quente' pode ser interpretada como uma metáfora para a tensão e o perigo sempre presentes. A menção ao 'comando' sugere a presença de uma liderança ou de uma organização que dita as regras. A música, portanto, não apenas descreve a realidade da favela, mas também revela a complexidade das relações sociais e a necessidade de um código de honra para manter a ordem e a coesão comunitária.