Balada Para Uma Velhinha

Ary Dos Santos / Martinho Da Assunção

Num banco de jardim uma velhinha
Está tão só com a sombrinha, que é o seu pano de fundo
Num banco de jardim uma velhinha
Está sozinha, não há coisa mais triste neste mundo
E apenas faz ternura, não faz pena, não faz dó
Pois tem no rosto um resto de frescura

Já coseu alpergatas e bandeiras verdadeiras
Amargou a pobreza até ao fundo
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras
As maneiras que a fazem estar sentada sobre o mundo
Neste jardim é ela a trepadeira das canseiras
Das rugas onde o tempo é mais profundo

Num banco de jardim uma velhinha
Nunca mais estará sozinha, o futuro está com ela
Sabe que as dores que tem também são minhas, são moínhas
O sol vem namorá-la da janela
Se essa velhinha fosse a mãe que eu quero, a mãe que eu tinha
Não havia no mundo outra mais bela

Num banco de jardim uma velhinha
Faz desenhos nas pedrinhas, que, afinal, são como eu
Sabe que as dores que tem também são minhas
São moínhas do filho a desbravar que Deus lhe deu
E, em volta do seu banco, os malmequeres e as andorinhas
Provam que a minha mãe nunca morreu

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