Guri
Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa, uma bombacha e me desse
Queria boinas, alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro queres ler
Vou aprender a fazer contas e um bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que é meu bem-querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Bota feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe: Saiu igualzito ao pai!
E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde eu nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui
A Nostalgia Pampa na Canção Guri de César Passarinho
A música Guri, interpretada pelo cantor César Passarinho, é uma expressão autêntica da cultura gaúcha, refletindo o universo do pampa e a vida campeira através dos olhos de um jovem. A letra da canção descreve os desejos simples e profundos de um menino que aspira seguir os passos do pai, adotando seus costumes e valores. A mala de garupa, a bombacha, as boinas e alpargatas são itens típicos do vestuário gaúcho, e o cachorro companheiro, além de ser um elemento de companhia, é também um auxiliar nas lidas com o gado.
O segundo verso revela a importância da educação e da comunicação, mesmo em um contexto rural. O guri quer aprender a ler e escrever, habilidades essenciais para expressar seus sentimentos, como o amor pela filha do seu Bento. A música também destaca a musicalidade regional com a menção à gaita de oito baixos, um instrumento característico da música folclórica do Rio Grande do Sul. Os elementos mencionados, como as esporas do Ibirocai e o lenço vermelho, são símbolos de identidade e pertencimento à cultura gaúcha.
Por fim, a canção termina com um pedido ao divino, uma súplica para que o menino possa permanecer em seu lar, sem se desviar das tradições que tanto estima. A expressão 'de lambuja' sugere um pedido adicional, quase como um brinde, que é o desejo de nunca ter que deixar o lugar onde cresceu. Guri é uma ode à simplicidade da vida rural, ao amor pela terra natal e à preservação da cultura gaúcha, elementos que César Passarinho, conhecido por sua voz marcante e interpretações emotivas, soube transmitir com maestria em sua música.