Cálice

Chico Buarque

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta

De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quеro lançar um grito desumano
Que é uma maneira dе ser escutado

Este silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada p'ra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um facto consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Curiosidades sobre a música Cálice de António Zambujo

Quando a música “Cálice” foi lançada por António Zambujo?
A música Cálice foi lançada em 2016, no álbum “Até Pensei Que Fosse Minha”.
De quem é a composição da música “Cálice” de António Zambujo?
A música “Cálice” de António Zambujo foi composta por Chico Buarque.

Músicas mais populares de António Zambujo

Outros artistas de Fado