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Um homem sobe na montanha azul
E lá em cima vê a lua cheia
Quase que dá pra pegar
Mas não dá
Um homem desce a montanha azul
E lá embaixo vê a lua cheia
Quase que dá pra pegar
Mas não dá
Metade da vida
Ou mais que a metade
Seria mais fácil
Saber a idade
Que vamos partir daqui
Cinquenta mais cinquenta dá cem
Cem talvez seja muito
Quero viajar o mundo todo
Queria ir pra Maputo
A cabeça tem gás
O corpo ainda aguenta
Pelo menos mais cinquenta
Sem tendinite
Sem sinusite
Com mimadisse
Ou com chatice
Mas também com risada
Brincando com a molecada
Verdade pra mulher amada
Com pipoca na almofada
Com amizade que não seja quebrada
Com violão na fogueira
Sem smartphone
Com um velho pai comendo polpetone
Com os filhos crescendo
Num mundo estragado
Mas felizes da vida
Por serem amados
Com a diferença unindo
E não rechaçando
Com o artista que cria
Cada vez mais criando
Os dedos do árabe contando os amigos
Com os egos inflados
Mostrando os umbigos
A morte passando
A criançada nascendo
Eu me repito, mas sigo crescendo
Matando minhas certezas
Recriando belezas
Falando sem falar
Tentando explicar
Com barulho, com som
Ou mesmo com o olhar
Berrando e sofrendo como todo o mortal
E o tempo passando etc e tal