Muro

Ana Larousse

Subiram as paredes cinzas negando a guerra milenar
Crianças a fazer peteca das pedras e dos coquetéis
Tapa os olhos da boneca
Não deixe que ela veja aqui tanta gente virando ruína, tanto sonho escombro que restou

Um país inteiro virando deserto pra abrigar fantasmas mundiais
Tão pouca gente pra ditar o certo e ainda falta voz a quem só quer viver de paz

Sobem muros pra esconder a gente
Sobem muros pra nos desalmar
Sobem muros pra mostrar pra gente que só vive quem puder pagar
Mais fronteiras peneiras de gente
Mais fronteiras pra nos descartar
Mais fronteiras pra mostrar pra gente que ser gente não nos basta ser

Tem que ser rei de algum lugar
Algum sultão ou coronel
Ou ter dinheiro pra poder bancar
A vida anda rara demais

Subiram o poder da gente de decidir quem vai viver, poder que cresce e indiferente à gente que não conhecer

Se for plebeu, sem-terra ou réu
De outra cor ou de outro Deus
Se for você ou mesmo eu, há espaço de sobra no céu

Subiram mais paredes cinzas negando a guerra milenar
Crianças a fazer brinquedos dos fuzis e das bombas de gás
Tapa os olhos, mundo inteiro!
Afinal o que se há de fazer com tanta gente virando ruína?
Melhor subir mais muros por aí
E a vida anda rara demais

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