Defesa do poeta

Defesa do poeta
Senhores jurados sou um poeta
Um multipétalo uivo um defeito
E ando com uma camisa de vento
Ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
De armazenado espanto e por fim
Com a paciência dos versos
Espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
Uma avaria cantante na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
O vosso enfarte serei
Não há cidade sem o parque
Do sono que vos roubei

Senhores professores que pusestes
A prémio minha rara edição
De raptar-me em crianças que salvo
Do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
De em pó volverdes sois os reis
Sou um poeta jogo-me aos dados
Ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
Puro exercício de ninguém
Minha cobardia é esperar-vos
Umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete
Que medo vos pôs por ordem?
Que pavor fechou o leque
Da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
A pena na tinta da natureza
Não apedrejeis meu pássaro
Sem que ele cante minha defesa

Sou o apanhado das coisas
Apanhadas em delito do perdão
A raiz quadrada da flor
Que espalmais em apertos de mão

Sou uma impudência a mesa posta
De um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer

E agora antes de fazer os
Pedidos que ainda vou
Fazer ao meu querido amigo
Vinicius de Morais, eu vou
Cantar uma coisa que eu gosto muito
Que é havemos
De ir a Viana outra vez do Alan
Como não poderia deixar de ser
Ela está em todas, agora?
Não está em todas não é por minha vontade
E versos desta vez de Pedro Homem de Belo

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