Samba-Enredo 2024 - Um Defeito de Cor
O samba genuinamente preto
Fina flor, jardim do gueto
Que exala o nosso afeto
Me embala, oh! Mãe, no colo da saudade
Pra fazer da identidade nosso livro aberto
Omoduntê, vim do ventre do amor
Omoduntê, pois assim me batizou
Alma de Gege e a justiça de Xangô
O teu exemplo me faz vencedor
Sagrado feminino ensinamento
Feito águia corta o tempo
Te encontro ao ver o mar
Inspiração a flor da pele preta
Tua voz, tinta e caneta
No azul que reina Yemanjá
Salve a Lua de Bennin
Viva o povo de Benguela
Essa luz que brilha em mim
E habita a Portela
Tal a história de Mahin
Liberdade se rebela
Nasci quilombo e cresci favela!
Orayeye oxum, Kalunga!
É mão que acolhe outra mão, macumba!
Teu rosto vestindo o adê
No meu alguidar tem dendê
O sangue que corre na veia é Malê!
Em cada prece, em cada sonho, nêga
Eu te sinto, nêga
Seja onde for
Em cada canto, em cada sonho, nêgo
Eu te cuido, nêgo cá de onde estou
Saravá Keindhe! Teu nome vive!
Teu povo é livre! Teu filho venceu, mulher!
Em cada um nós, derrame seu axé!
A Força da Ancestralidade e a Luta pela Liberdade no Samba da Portela
O samba-enredo da Portela para o Carnaval de 2024, intitulado "Um Defeito de Cor", é uma poderosa homenagem à cultura afro-brasileira, à resistência e à luta pela liberdade. A letra do samba evoca a ancestralidade e a importância da memória histórica, celebrando figuras emblemáticas da resistência negra no Brasil. A Portela, uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro, é conhecida por seus enredos que frequentemente abordam temas sociais e culturais relevantes, e este samba-enredo não é exceção.
A letra começa destacando o samba como uma expressão genuinamente negra, que brota dos guetos e se torna um símbolo de afeto e identidade. A referência a "Omoduntê" remete a uma expressão de origem africana que significa 'a criança chegou', simbolizando o nascimento e a esperança. A menção a orixás como Xangô e Yemanjá, bem como a figura da águia, reforça a conexão com a espiritualidade e a força feminina. A música também faz alusão a Luiza Mahin, uma figura histórica que, segundo relatos, foi uma das líderes da Revolta dos Malês, uma insurreição de escravizados muçulmanos em Salvador, na Bahia, em 1835.
O refrão celebra a resistência e a evolução da luta negra, da formação dos quilombos à realidade das favelas, lugares de resistência e cultura. A Portela se coloca como herdeira dessa trajetória, reafirmando seu compromisso com a história e a cultura afro-brasileira. A música termina com uma invocação de bênçãos e axé, desejando que o espírito de luta e liberdade continue a inspirar e a vencer através das gerações. O samba-enredo é um convite à reflexão sobre a história e a contribuição africana na formação da identidade brasileira, além de ser um chamado à celebração da vida e da liberdade.